O que não vem nos jornais Dia a dia, milhares de quilos de papel, por vezes ainda a cheirar a tinta, desaparecem das mãos dos ardinas (...). Na monotonia do quotidiano que se repete, há quem os leia no intervalo apressado proporcionado por uma viagem de autocarro, no café, antes de entrar para o trabalho, em período de lazer, no espaço recatado da casa de cada um. Lêem e devoram a informação sobre o joelho, palavras, números, gravuras. O jornal é um veículo de informação que, apesar de muitos lhe preconizarem a morte, vai resistindo e moldando-se aos interesses das pessoas. (...). Dir-nos-ão que entre nós, ainda assim são muito poucos os que lêem jornais. Não bastará para tanto invocar que os preços são altos, que muitos não sabem ler, que o interesse pela leitura nunca foi muito estimulado. (...) Mas há outras razões, mais ou menos ligadas a submissões políticas e económicas, falta de força e de qualidade. Mas, pesquisemos também o conteúdo e a sua relação com os leitores, o que nos faz vir à cabeça o último verso de uma (já) velha canção de Chico Buarque: "a dor da gente não sai nos jornais"... o que sai, então? Sai a discussão política, a economia e os grandes números de orçamentos e de empresas, as greves e as disputas entre sindicatos, as "bombas" do desporto, as guerras ... Não vêem nos jornais, pelo contrário, as pequenas dores e alegrias das pessoas, a não ser daqueles que conseguiram transpor o muro para a vida pública. Não há espaço para as pequenas mutações que estão, finalmente, a mudar a vida de todos, para os casos que, por serem pequenos, não deixam de ser grandes. Luísa Bessa, in Jornal de Notícias 20-10-86
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Fonte Edutotal